Lula, em sua infinita criatividade, acaba de inventar uma nova categoria de regime. Ao lado das democracias e das ditaduras, agora temos os regimes “desagradáveis”. Ele afirmou que a Venezuela é um regime desagradável, não uma ditadura como “tantas nesse mundo”. Fosse eu o jornalista, pediria a Lula um exemplo de ditadura, já que temos “tantas nesse mundo”.
Cuba? Não, certamente é um “regime desagradável”. Nicarágua? Não, outro “regime desagradável”, em que Ortega exerce seu direito de ficar no poder tanto quanto Angela Merkel. China, Rússia? Não, tudo “regime desagradável”. Talvez sobrasse para a Hungria de Orbán e Israel de Netanyahu. Sabe como é, ditadura é o regime dos fascistas, e fascistas são todos aqueles que não rezam pela cartilha do PT.
E por falar em PT, o presidente nos fez saber que não concorda com a nota do partido, que reconheceu a vitória de Maduro. Sérgio Fausto ainda respira. Ok, difícil de acreditar que algo tão importante tenha saído sem o aval do principal político do partido, que é presidente da República e tem seu governo diretamente envolvido com o assunto. Mas vá lá, faz de conta.
Na mesma entrevista, Lula registra que Maduro e a oposição, não têm provas de que venceram as eleições, o que é uma grossa mentira. A oposição montou um bem sucedido esquema de contagem paralela de votos com base na digitalização das atas eleitorais emitidas logo após o fechamento das urnas. Reportagem bem didática do Poder 360 mostra como isso foi feito.
A insistência de Lula e de seus companheiros do México e da Colômbia, para que o ditador Maduro mostre as atas, não passa de subterfúgio para dar tempo ao regime perverso para encontrar uma saída, ou simplesmente deixar o tempo passar e a reeleição ser tida como fato consumado. Afinal, de quanto tempo a autoridade eleitoral precisa para divulgar atas que foram produzidas no dia das eleições? A exigência das atas desacompanhada de um ultimato é só um engana trouxa.
Lula, com o seu “regime desagradável”, demonstra que sua capacidade de acender velas para dois senhores (a democracia brasileira e a ditadura amiga venezuelana) está se esgotando. Vamos ver qual das duas se apagará.
Marcelo Guterman. Engenheiro de Produção pela Escola Politécnica da USP e mestre em Economia e Finanças pelo Insper.
Jornal da Cidade Online