Uma reportagem da Folha de São Paulo, publicada no dia 27 de abril, faz cair por terra a narrativa do Governo Federal de que eles teriam sido surpreendidos pela agressividade das manifestações dia 8 de janeiro. Documentos obtidos pelo jornal paulistano mostram que a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) já havia avisado o general Gonçalves Dias, ministro-chefe do GSI, no dia 6 de janeiro. Na mesma data, foi alertado o ministro da justiça, Flávio Dino, sobre a possibilidade de ações violentas, invasão a prédios públicos, em decorrência dos atos programados para o dia oito de janeiro.
Pelo visto, o governo federal já sabia 48 horas antes da manifestação dos riscos de vandalismo e outros atos violentos, tempo mais do que necessário para preparar medidas de dissuasão e repressão aos manifestantes. Os informes foram enviados a CCAI (Comissão Mista de Controle das Atividades Inteligência) do Congresso Nacional, pela ABIN no dia 20 de janeiro – a princípio esses informes deveriam ser mantidos em sigilo. Não é só isso… Além do GSI, treze outros órgãos de segurança foram avisados, inclusive a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.
A Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal também foram avisadas pela agência de inteligência; o ministro chefe do GSI, Gonçalves Dias, recebeu três alertas no seu celular pessoal desde o dia seis de janeiro, ou seja, a ABIN não poderia ser mais clara do que isso. Apesar de já haver circulado informações a respeito desses alertas, os documentos vazados a Folha, agora detalham a situação mostrando destinatários, horários e a íntegra das informações repassadas pela agência de inteligência. Estranhamente o GSI e o Ministério da Justiça negaram ter recebido tais comunicados.
Ué, então a ABIN estaria mentindo?
Claro que não, até porque os documentos atestam isso. Impressão que fica é que o GSI e o Ministério da Justiça não têm explicação para a sua inação e partem para mentira pura e simples.
Na manhã do dia oito de janeiro exatamente às 8:53 da manhã, o general Gonçalves Dias recebeu um alerta no seu celular, avisando que cem ônibus haviam chegados a Brasília para “os atos previstos na Esplanada”, ou seja, eram os agentes da ABIN dando um último alerta que os ataques eram iminentes – ainda em tempo hábil para o Ministro-General acionar suas tropas, mas Goncalves Dias nada fez. Estranho.
Essa primeira mensagem, enviada às 8:53, foi privativa para o ministro chefe do GSI. Sentindo a falta de reação do GSI, sete minutos depois um novo alerta foi enviado, novamente, ao ministro do GSI, mas dessa vez também foram notificados o departamento de inteligência do Ministério da Justiça e os órgãos de segurança do Distrito Federal. Esse comunicado alertava para o aumento expressivo de manifestantes e de barracas no acampamento em frente ao quartel general do exército em Brasília
As 10h00, já demonstrando extrema preocupação, os agentes da ABIN enviaram mais duas mensagens, dessa vez para todas as autoridades que acompanhavam a manifestação e tinham responsabilidade de confrontá-los ou dispersá-los. O texto dessas mensagens dizia:
“Convocações e citações para deslocamento até a Esplanada dos ministérios, ocupações de prédios públicos e ações violentas”.
Importante ressaltar que desde sábado os agentes de inteligência registravam que existiria possibilidade de vários manifestantes estarem armados – o que não se confirmou – mas não exime os órgãos responsáveis pela falta de atitude.
Horas mais tarde, o Secretário de Segurança Pública em exercício do Distrito Federal, Fernando de Souza Oliveira, enviou um áudio inacreditável ao Governador Ibaneis Rocha dizendo que estava “tudo tranquilo”?!
Como se a ABIN passou dois dias alertando para o risco de atos de vandalismo e violência?
Depois de dias inertes e sem reação às 16:43, o governador Ibaneis Rocha solicitou ao ministro Flávio Dino que acionasse o Exército e que fosse decretado uma operação de GLO (Garantia da lei e da Ordem) – opção imediatamente descartada por Lula.
Outro Lado
Sem argumentos em sua defesa, o Ministério da Justiça simplesmente negou ter recebidos informes de inteligência. O ex-ministro do GSI, general, Gonçalves Dias, também negou e o ministro da Justiça, Flávio Dino também partiu para ficção científica e negou ter recebido informes da ABIN sobre a possibilidade de ataques – mesmo sabendo que os informes foram documentados.
Como sempre Lula renegou os fatos:
“Nós temos inteligência do GSI, dá bem, do exército da marinha, da aeronáutica, ou seja, a verdade é que nenhuma dessas inteligências serviu para avisar ao presidente da república que poderia ter acontecido tudo isso”, afirmou Lula à GloboNews que, claro, não questionou o presidente como é de costume naquela emissora
Eduardo Negrão
Consultor político e autor de “Terrorismo Global” e “México pecado ao sul do Rio Grande” ambos pela Scortecci Editora.