PORQUE (M) LUTAM OS PROFESSORES DA REDE MUNICIPAL?

Desde o dia 22 de Maio passado temos acompanhado a luta dos professores da rede municipal por melhores condições salariais e melhores condições de trabalho. Paralelo a isso temos acompanhado também manifestações da justiça determinando a volta imediata ao trabalho, declarando a greve ilegal, além de parte da imprensa todos os dias afirmando que os alunos da rede estão sendo prejudicados com a ausência das aulas.

Como professora e pesquisadora em educação, que a um ano vem levantando dados sobre educação infantil da rede municipal, resolvi me manifestar em respeito a todos e todas que emitem opinião sobre o movimento grevista e o impasse que impede a retomada das aulas, colocando, modestamente algumas questões para discussão da sociedade ludovicense.

Quando levanto dois questionamentos em um, perguntando por que e por quem lutam os professores da rede municipal, ao contrário da justiça, da imprensa e de outros setores da sociedade, não tenho respostas prontas, trago elementos que resultam de um processo de investigação que não busca julgar, classificar ou apontar culpados, mas sim compreender o processo em andamento e tentar contribuir de alguma forma para sua melhoria.

Assim, quando pergunto por que lutam os professores da rede municipal, posso apontar alguns elementos que dão alguma pista da motivação dessa luta:

1)     Lutam para deixar de dar aulas em salas muito quentes, muitas vezes sem um ventilador para minimizar o calor, ou ainda nessa excrecência chamada Anexo, que são arranjos (ou desarranjos), para substituir as escolas que não foram construídas;

2)    Lutam para não ter que tirar de seu salário, carcomido pela inflação, um mínimo de material didático para poder ministrar suas aulas, já que em algumas escolas não é encaminhada, pelo poder público, a pelo menos sete anos uma folha de papel sequer;

3)    Lutam para também não ter que tirar desse mesmo carcomido salário, recursos para custear sua formação contínua, que este mesmo poder público que o manda retornar imediatamente ao trabalho, não se preocupa em oferecer;

4)    Lutam para conseguir que esse poder público, envolvido aí os três poderes, não os trate como invisíveis, como alguém que está lá para fazer independente das condições e situações e, sim, como trabalhadores (as) que lutaram muito, investiram muito em sua formação e não merecem ser desrespeitados como estamos assistindo atualmente;

5)     Lutam para ministrar aulas sem medo da violência que adentra as escolas, sem que se pense em proteger esse profissional que sai de casa para desenvolver seu trabalho;

6)    Lutam para conseguir ensinar crianças muitas vezes oriundas de famílias indiferentes que também de forma indiferente levam seus filhos à escola;

7)    Lutam para transmitir valores sociais e esperança para várias crianças com alta vulnerabilidade social, sem que haja apoio de uma equipe multidisciplinar para que seu trabalho tenha uma continuidade;

8)    Lutam para dar dignidade a uma profissão que só quem a exerce sabe o que é encarar salas de aula superlotadas em condições absolutamente precárias, pois professor não tem gabinete como os que ordenam a retomada imediata das aulas, muitas vezes não tem nem cadeira para sentar;

9)    Lutam para mostrar a essa sociedade indiferente que não são missionários, não fazem caridade e muito menos dela necessitam, são PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÂO, essa mesma que todos(as) dizem querer com qualidade;

10)   Lutam para provar que esses(as) hipócritas que dizem lutar por uma educação pública de qualidade, apenas a usam como discurso para enganar aqueles que dela necessitam, pois onde estão os vereadores que tanto falaram em defender essa educação de qualidade e consideram a Luta dos professores ilegal e prejudicial às crianças. Prejuízo é fazer de conta que faz educação. ATENÇÃO, esses(as) hipócritas são candidatos(as) e querem nosso voto com o mesmo discurso falso e vazio.

Agora, por quem lutam os professores da rede municipal de ensino:

1)     Lutam por si mesmo, para que tenham um desenvolvimento profissional digno, um trabalho de qualidade e uma aposentadoria também digna;

2)    Lutam por seus alunos, para que essa tão propalada qualidade efetivamente chegue a eles;

3)    Lutam pelas famílias de seus alunos, pelas indiferentes, para demonstrar o valor social da educação, pelas esperançosas, para que sua fé na escola pública não seja frustrada;

4)    Lutam por todos nós, sim, por toda a sociedade, especialmente a maranhense e ainda mais especificamente a ludovicense, para que deixemos de nos envergonhar de nossos índices sociais, sempre entre os piores do Brasil, que também não apresenta índices dos quais possamos nos orgulhar, ou seja, para que pelo menos comecemos a dialogar, discutir, nos indignar com a situação da educação municipal de São Luís.

Enfim, vamos mandar trabalhar imediatamente, quem não faz a sua parte, o gestor público, que nas campanhas políticas jura defender a educação pública e quando assume o poder, vira patrão, esquecendo que a base de sustentação da gestão pública é o diálogo, a negociação e os acordos possíveis, ações que efetivamente são desenvolvidas por quem conhece a realidade de sua cidade, de quem tem um projeto de transformação da sociedade, de quem quer ser história.

                                  Prof.ª Dr.ª Rosemary Ferreira da Silva

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