O dia 06 de dezembro é uma data que continua sendo lembrada por muitos dos servidores da extinta Emater do Maranhão. É o Dia Nacional da Extensão e muito embora a data fosse festiva, reflexões sobre as ações e os resultados dos trabalhos com sintonia entre agricultores e técnicos era, além de importante, emocionante e festivo. Com as lembranças registradas neste artigo quero homenagear todos os colegas servidores da extinta Emater-MA, que estão aposentados, os que ainda estão na missão de fazer o melhor pela pequena agricultura e lembrar também os que estão no Reino da Glória. A verdade é que todos têm lembranças da missão, compromisso e lealdade em se fazer o melhor pelas famílias do meio rural e a indignação pela maneira perversa e irresponsável como se extinguiu a Ematare-MA.
A Emater do Maranhão tinha aproximadamente 150 escritórios iguais ao da foto. Todos foram construídos com recursos do Banco. Mundial
Quando vejo e assisto a propaganda politica partidária, identifico muitas figuras que foram de fundamental importância para o avanço da miséria e da fome no Maranhão. O processo teve inicio com o senador José Sarney à época Presidente da República, que para atender exigências de empresários do agronegócio extinguiu a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural – Embrater. Os governadores de quase todos os estados brasileiros reagiram com a exceção do Maranhão, que se manteve silencioso e compactuou com a determinação do Palácio do Planalto, o que não seria diferente com o Executivo Estadual entregue à governadora Roseana Sarney.
Estados como o Ceará, Pernambuco, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul eo Distrito Federal dentre outros decidiram manter as suas Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural. Elas avançaram, desenvolveram tecnologias e chegaram mais perto dos pequenos agricultores familiares e promoveram uma verdadeira revolução no campo, proporcionando a que a agricultura familiar responda por mais de 70% dos alimentos que estão nas mesas dos brasileiros todos os dias. Conseguiram fazer com que milhões de famílias mudassem de vida ganhando dinheiro e ampliando os seus negócios. Os filhos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais tiveram oportunidades de cursar faculdades e inúmeros depois de formados retornaram para o campo e ampliaram os negócios da família.
Seguindo o compromisso assumido pelo então presidente José Sarney com o agronegócio, a governadora Roseana Sarney, sem ter a mínima noção do que era a extensão rural no Maranhão, extinguiu a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Maranhão –Emater-Ma. O patrimônio da empresa era acentuado, bastando citar a sede estadual era no local que hoje é ocupado pela Secretaria de Segurança Pública, prédio construído com recursos do Banco Mundial. Contava também com 13 escritórios regionais e mais de 125 escritórios locais, quase todos com sedes próprias construídas também através de convênios da Embrater com o Banco Mundial. A extinção proporcionou a que o governo através dos seus gestores lançarem mãos de todo o patrimônio, com desvios de veículos, móveis, parque gráfico e tudo de valor material que havia dentro dos escritórios do interior e da capital. O processo utilizado para a extinção do Serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural do Maranhão, foi bastante doloroso para os seus servidores, muitos ficarem doentes, outros indignados e revoltados e a maioria do corpo técnico altamente capacitado, decidiu seguir outros rumos, inclusive indo embora do Maranhão e outra parte permanece no Sistema de Agricultura. Houve até tentativas do governo em copiar o modelo e as metodologias da Emater-Ma, mas por falta de processos de investimentos e capacitação, nada prosperou.
A família da foto em que faltam outros membros teve a sua casa incendiada por jagunços de um politico na cidade de Bacabal, por se recusar a abandonar uma área de posse. O fato foi registrado no ano de 1996.
Foi a partir da extinção da Emater-Ma, que a governadora Roseana Sarney decidiu punir a população do meio rural maranhense. Além de tirar deles a assistência técnica e a produção de alimentos, escancarou uma grande porteira para os conflitos agrários. Os políticos e empresários do agronegócio da soja, do gado, do milho, do eucalipto da cana de açúcar e de outras comodities, decidiram com o integral apoio do Governo do Estado, expulsar milhares de famílias das suas posses centenárias. As práticas delituosas, que ainda permanecem nos dias atuais, são executadas medianteforças de jagunços e até da Policia Militar, com mandados judiciais decorrentes de ações em que não constam cadeias dominiais de terras, e que seriam de fraudes em cartórios e muitos outros casos em que a pistolagem sempre mostra a competência da violência.
As famílias de pequenos trabalhadores e trabalhadoras rurais passaram a viver à própria sorte, e se não fosse a atuação determinada da Comissão Pastoral da Terra, os problemas teriam sido maiores, mas a pistolagem matou muita gente inocente, que queria apenas ter o direito a sua posse de terra para dela retirar o pão de cada dia. Hoje a resistência perdeu a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura – Fetaema, que como a referência do Movimento Sindical Rural decidiu se aliar ao atual governo em troca de cargos na Secretaria da Agricultura Familiar e deixou de enfrentar políticos, grileiros, latifundiários e abandonou a defesa dos direitos, da honra e da dignidade de homens e mulheres do meio rural.
A última referência nacional que o Maranhão mereceu na produção de alimentos, foi no governo Luís Rocha, quando conseguimos ser o segundo maior produtor de arroz do Brasil, com a maior parte da produção vinda da pequena agricultura assistida pela Emater-Ma. Hoje o Maranhão, infelizmente está na agricultura de subsistência e não produz nada, mesmo com os artifícios do governo de Flavio Dino, que contratou uma empresa especializada no agronegócio, mediante 15 milhões de reais para dar assessoria para a Secretaria de Agricultura Familiar. Não temos assistência técnica e extensão rural para dar atender a demanda no Estado e pela deficiência é que o Maranhão já chegou a ter o maior número de projetos do PRONAF em todo o Norte e Nordeste do País e não respondeu com uma produção agrícola por falta de assistência. Muitos agricultores acabaram endividados e de pobres se transformaram em miseráveis.
De acordo com levantamentos feitos pelo Movimento Sindical Rural há dois anos, no nosso Estado já haviam mais de 700 mil pessoas em plena miséria sem qualquer renda e com a atual estiagem deve ser muito maior A maioria é de homens e mulheres expulsas do campo pela violência exacerbada sempre acobertada por políticos e o próprio governo. Para exemplificar, o Grupo Suzano Papel Celulose tão exaltado pela então governadora Roseana Sarney e hoje pelo governador Flavio Dino, já conseguiu expulsar tanta gente na região do Baixo Parnaíba, que não se tem ideia real numérica. O que causa maior indignação é que ele tem incorporado aos seus patrimônios em nove municípios da região do Baixo Parnaíba, terras devolutas e que são do conhecimento do ITERMA.
Outras sérias causas da violência no meio rural dimensionada pelo governo de Roseana Sarney, e que precisa ser avaliada com a devida responsabilidade, reside na inserção de milhares de famílias expulsas das suas áreas de posses, que foram perambular e engrossar bolsões de miséria nas sedes de municípios e na capital. Os jovens se tornaram presas para a inserção na criminalidade e nas grogas pela falta de qualificação profissional e as necessidades urgentes de subsistência. As mulheres não tiveram outra oportunidade a não ser ingressar na prostituição e no vício das drogas e da perdição.. Os reflexos do aumento de viciados e contraventores nos municípios e na capital estão diretamente ligados à perversa exclusão social a partir expulsão de milhares de famílias para atender interesses de grileiros e dos políticos e empresários do agronegócio, acobertados pelas mais diversas instituições estaduais e federais, principalmente o INCRA.