Paixão do Senhor

Dom José Alberto Moura
Arcebispo de Montes Claros

A entrada triunfal de Jesus na capital de seu país foi a de um rei pobre, montado num jumento. O tapete festivo foram os ramos e mantos jogados pelo povo à sua passagem. A aclamação do povo foi a manifestação de apreço a quem fizera muitos milagres e tanto bem a inúmeras pessoas (Cf. Mateus 21,1-11). Mas o triunfo parecia efêmero. Logo veio a manifestação popular contrária no grito de “crucifica-o” (Cf. Mateus 27,22)! Jesus sabia do sofrimento ou da paixão com seu derramamento de sangue. Aliás, no horto das oliveiras, ele já suara sangue. Na cruz ele deverá derramar todo o resto que lhe faltaria doar, juntamente com a água saída de seu coração perfurado pela lança. Seu reino não é do triunfo humano passageiro. Mas de uma base sólida de realização humana paro todos os que com ele experimentam o sofrimento da doação de si por amor.

Nesta semana santa somos convidados a caminhar com o Rei, mas não apenas com a aclamação de um entusiasmo passageiro. Experimentar com Ele todos os passos exige de nós a obediência ao Pai, ou seja, de realizar na vida a doação total de cada um para haver justiça nessa terra, fundamentada na bondade e misericórdia surgida na fonte de Cristo. Ele se colocou em estado de sofrimento ou paixão, indicando que o termo ou finalidade de tudo é a vida nova advinda com a ressurreição. Ao contrário do consumismo ou da idolatria da matéria e dos caprichos dos instintos, o Mestre nos ensina aceitar as coordenadas dele para implantarmos a justiça misericordiosa. Ela nos faz dar ao semelhante não simplesmente o que ele merece, mas o que ele necessita. Deus nos dá o que precisamos e não o que merecemos, apesar de tudo fazermos para realizar o maior esforço para correspondermos a seu amor. Ele deu tudo de si. No caminho com Ele também somos convocados a dar de nós por quem mais necessita, principalmente os mais explorados em sua dignidade, usados para ser barganhados por dinheiro fácil de inescrupulosos, que abusam dos mais frágeis, de crianças indefesas usadas para levar drogas, se submeterem a prostituição, e chegam até serem usadas para terem seus órgãos arrancados em benefício de outros..

É um ato de caridade as pessoas deixarem a orientação e até as famílias autorizarem a doação dos órgãos de quem tem morte cerebral, para os oferecerem gratuitamente em bem da saúde de outros!

Faz parte da paixão com Cristo, para também haver a ressurreição com Ele, sacrificar-se para o serviço ao bem comum, trabalhando por políticas e ações comuns em bem da superação da miséria em todos os sentidos, dando-se vida e dignidade para os mais fragilizados da sociedade. O melhor jejum é a ação de libertar quem está aprisionado a uma vida sem sentido e de muito sofrimento físico, material, moral e espiritual. Manifesta-se, então, uma fé no Servo Sofredor, que nos mostra o sofrimento regenerador e que é capaz de produzir vida para todos. Com Jesus sofredor e ressurreto vivemos para amar e espalhar seu amor para todos!

 Fonte CNBB Nacional

 

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